Na minha separação, dois anos atrás, na divisão de bens, o Bar Balcão ficou com o meu ex. Foi a primeira coisa que decidimos. A conversa foi assim:
– É isso mesmo?
– É.
– Então é isso, né? É.
– É isso? É.
– Tá.
– Tá.
(breve silêncio)
– E quem vai ficar com o Balcão?
A discussão foi longa. Ele conhecia o bar primeiro. A primeira vez que fui lá, foi porque ele me levou. Mas, no caminho para o banheiro, tem um quadrinho com um texto meu para o Divirta-se falando sobre o hamburguer do Dudu (é verdade que eu tive a manha de errar o endereço, mas quando você vai sempre ao lugar, o endereço acaba perdendo relevância). E eu sou jornalista e todo mundo sabe que o Balcão é bar de jornalista. O que naturalmente deixaria o Balcão comigo.
Bem, como eu queria muito ficar com o sofá e com um quadro de luta-livre mexicana (ambos itens potencialmente polêmicos na hora de decidir o que era de quem), cedi o Balcão para garantir El Enmascarado de Plata.
Banida no Balcão, passei a frequentar o Bar da Dida (que eu já frequentava e sempre esteve na lista de bares favoritos). Eu achei bom mudar de ares, e os ares tinham definitivamente mudado. Embora não tenha nem mudado de quadra.
Mas como as regras são feitas para serem quebradas – e eu tenho meus informantes – quando o ex tá viajando ou dormindo (tenho a impressão de que a notivaguice ficou pra mim), volta e meia eu volto o Balcão. Já cheguei lá bem tarde, meia dúzia de gato-pingado, pra tomar dois bloody marys e falar mal do jantar afetado que nunca terminava num restaurante ali perto. E quando marco de encontrar amigos lá, amigos que sabem que fui banida do bar, adoro os primeiros momentos da conversa, em que faço uma cara de clandestina e digo: ‘eu não poderia estar aqui’.
Por obra do destino, a dona do Bar Balcão ficou sabendo dessa história e decretou:
– Ela pode vir aqui sim!
Bom, ela é a dona do estabelecimento, né. Então hoje, se o Bar Balcão abrir, eu faço questão de ir lá tomar um chope.
Quero manifestar meu carinho aos garçons, que ontem à noite foram agredidos no mais recente caso da onda de arrastões que parece querer dar o tiro na testa, aquele último, com indícios de execução, na vida paulistana.
Eu aceitei abrir mão do Balcão na divisão de bens. Mas me recuso – me recuso – a permitir que roubem o Balcão (e o Carlota, e a pizzaria Bráz etc etc e os resturantes e o bares e os bares que abrem às segundas-feiras e as pessoas que vão a bares na segunda-feira e essa coisa paulistana de se achar capital da gastronomia e da vida noturna mundial, que é um pouco jeca, mas tem uma graça toda própria) de mim e de todo mundo. Vamo?
PS. Ontem eu fui ao Dry, bar que não combina muito com meu estilão, e, na volta pra casa, passei na frente do Balcão. Era tipo meia-noite e pouco. E eu pensei: ai, a gente podia parar pra tomar uma saiderinha no Balcão. Mas era segunda-feira e o pessoal aqui em casa acorda cedo e tava aquela neblina toda sugerindo cama-cama-cama-cama. Um hora depois, cinco homens armados renderam um garçom do Balcão que estava fechando a casa, roubaram os poucos clientes que deviam estar insistindo naquela última rodada, e agrediram os garçons para roubar o caixa, de onde levaram R$ 200. Agrediram os garçons, mano. Os garçons do Balcão. Que são os garçons mais legais do mundo depois do Eugênio, o garçom do Prainha (de Higienópolis, não da Prainha da Paulista).
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Passei por um caso semelhante, na época acabei ficando com o Milo Garage na separação de bens, até que fechou hahahahahaha Ironias do destino
Ah, e o Balcão é famoso por ser bar de arquiteto, que eu saiba os de jornalistas ~oficial~ é o Filial!
O Balcão é de todos!
(e o Filial já foi sim o bar dos jornalistas. Concordo. Mas não é mais. Não sei direito o que aconteceu)
Mto triste isso… o Balcão é meu quintal, é ponto de encontro de mtos amigos e seus garçons são sim os mais bacanas de SP. Tá rolando uma homenagem no instagram: #ladrãovaipralongedobalcão
Gostei muito do post e achei uma grande coincidência, já que recentemente falei sobre o Balcão e como achei ele ótimo para ir numa segunda-feira: http://vimefiquei.blogspot.com.br/2012/05/segunda-feira.html
Post ótimo, ainda que triste. E palmas para o fechamento : “Depois do Eugênio, o garçom do Prainha (de Higienópolis, não da Prainha da Paulista).”
We love Eugênio!
A parte que eu mais gosto é a do endereço errado no textinho do guia. Me identifico. Só que, se fosse meu, além do endereço errado teria a assinatura “da reportagem legal”
Eu invejo muito o “da reportagem legal”.
Muito bom, Heloisa
Quando eu estava solteiro, o Balcão era refúgio meu e de duas amigas (todos jornalistas, claro) na noite do Dia dos Namorados. Para brindar à solteirice, nada melhor que compartilhar a “mesa” com todo o bar.
Se havia um acordo entre você e seu ex, o tempo revogou. Vá sem culpa!
Temos que tomar cuidado pra que São Paulo não vire Caracas. A capital da Venezuela só tem restaurantes dentro de Shoppings ou vilas para evitar assaltos. Lá a coisa tá muito pior, não se anda a pé depois das 22h. A segurança em SP melhorou nos últimos anos e não podemos retroceder. Só falta irmos ao balcão e ficar com medo! Lutemos!
texto legal!
Ta complicado isso. Algum sugere o que nós reles mortais podemos fazer alem de não se acovardar e continuar freqüentando nossos points favoritos?
Preguiça da vida, pqp…
sou muito amigo do BB e adorei seu texto
a resistencia se faz necessaria…vamos continuar indo ao balcão e aos outros bares e resturantes da cidade com o kit ladrão: celular vagabundo, cartão de credito e fotocopia dos documentos, sem joias. relogio de plastico. os bares e restaurantes que providenciem oculos para os mais velhos, afinal mesmo com o cardapio decorado poderemos querer ver os amigos.
beijocas nos garçons adoraveis.
Achei ótima a ideia de dividir lugares em uma separação. No matter what, também não abriria mão do Balcão. Mas o melhor mesmo é não se importar com isso. E o melhor, melhor mesmo é não precisar se separar. E para mim o melhor garçom é o Brito!
Meu primeiro namorado era o melhor amigo da minha irmã mais velha, frequentava a minha casa, era querido por todos da família e morava a menos de 100 metros da nossa residência. Talvez isso explique que, relação terminada, roupa suja lavada e passada, eu volte às boas com meus ex, e me relacione numa boa com suas atuais, inclusive com a viúva desse meu primeiro namorado.
Eu não sou civilizada não, apenas uma boa macaca treinada!