Tira a gola rolê
e dá de cara
com o decote-vê.
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Tira a gola rolê
e dá de cara
com o decote-vê.
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Smoothin’ Shine
Abrillantador
Dourado e duradouro
PS: Graças ao bom Rods e abençoada pela mãe Duchampa, retomo os versos ready-made
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Spray
Fixação normal
Não deixa resíduos
Use sua imaginação
Vaporize
Fixa solto
PS: Graças ao bom Rods e abençoada pela mãe Duchampa, retomo os versos ready-made
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Invisible solid
Protege/Acalma e protege
Reconstrói
Proteção invisível
PS: Graças ao bom Rods e abençoada pela mãe Duchampa, retomo os versos ready-made
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Até uma aula matinal e obrigatória de gramática (eu adoro gramática, adoro-doro-ouro) pode ser poética. Não duvide, aconteceu comigo, hoje, no módulo concordância verbal.
Foi assim: rindo com desprezo, o professor contou de um leitor, bobão, que escreveu a propósito de um texto sobre a concordância com “menos de cem”. Dizia ele: “Menos de cem pessoas vieram à festa”. O leitor refutou: “Menos de cem pode ser uma. E nesse caso seria menos de cem pessoas veio à festa”.
Ah, poético leitor, estou com você nessa. Em uma festa com menos de cem pessoas, conheci meu namorado. Em todas as histórias de amor, menos de 6 bilhões é sempre um. Em cada uma delas, aquele um ele.
Enquanto eu pensava em amor, veio um estalo gramático: menos de dois é um. À parte a lógica, o que acontece com a concordância nesse caso? Até 1,9, o verbo é no singular. Por exemplo, menos de dois pães embolorou. Tem um pão e meio, ele embolorou. Porque um e meio é singular. E agora?
Resolvi fazer a pergunta, mas saiu pessoa em vez de pão. E isso despertou o lado professor de cursinho do professor em questão. E enquanto o cara reciclava aquelas piadas sem graça que eu, graças a mim, nunca ouvi porque passei direto no vestibular, eu ia perdendo totalmente o interesse na aula. Até que, sem querer, o professor devolveu a poesia ao papo e lá fui eu e meu eu funil.
É que ele começou a dizer, rindo, que “menos de duas pessoas é o que? Uma pessoa e um pescoço, um tornozelo e um antebraço?”
Ah, o alívio. Eu pude, enfim, ficar em paz e apaixonada pela minha concordância verbal. Menos de dois é singular, como notou o caro leitor. Menos de dois abraça. Eu, seu pescoço e seu braço. Menos de dois aconchega: você inteiro, seu suvaco, meu peito. Menos de dois beija, só as bocas, que o resto arrepia. E melhor: pode usar à vontade, que essa regra não tem exceção.
E quanto à aula, bom, ela me deu vários lides para posts (talvez eles venham, talvez não) e, de brinde, me fez reformular um velho ditado. Ele agora ficou assim: quando um não quer, dois não brisa.
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Tudo nessa vida tem seus prós e contras. Recentemente, a Belle e o Chico enfiaram na cabeça que queriam ir morar fora. Foi-que-foi e eles foram pra Chicago no fim da semana passada. Eu estava aqui sofrendo como se estivesse no famoso inverno de lá quando veio um quentinho acalentar meu coração.
É que a Belle finalmente criou um blog, o Is a Belle Époque.
E eu fiz um versinho para eles em Chicago. É bem maroto, saca só:
Eu ia dizer:
Chico e Belle,
bem-vindos a
Chicago.
Mas é mais certo
dizer assim:
Chicago,
bem-vinda a
Belle e Chico
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– Eu amo Jesus!
– Mary him.
PS: Essa obra minimalista, bilíngue, espirituosa e espiritualizada está na porta de um dos banheiros do Estadão.
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(Por uma espécie de ausência de critério, este post tem três poemas, para ler todos os três, é preciso ir até o fim. Há um critério, porém, de ordenação de qualidade. Primeiro: BANDEIRA, Manuel. Segundo: LOBO, Reinaldo. Terceiro: COM ESPAÇO, Caracteres)
Um delegado brasiliense fez um B.O. poético. Como esse blog é dado ao poético e ao patético (esses dias eu tava ouvindo rádio Cultura e aprendi que patético é ‘aquilo que causa emoções’, o locutor disse não saber direito quando o patético ganhou os contornos de hoje. Pra mim patético vinha de palhaço, mas pelo visto meus talentos etmológicos são nulos) eu me sinto no dever de reproduzir a obra. Mas antes de reproduzi-la, preciso dizer que, em sua simplicidade, ela me lembrou essa, do Manuel Bandeira:
Poema tirado de uma noticia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Bandeira é tão lindo. Agora vamos à obra do delegado Reinaldo Lobo:
Já era quase madrugada
Neste querido Riacho Fundo
Cidade muito amada
Que arranca elogios de todo mundo
O plantão estava tranqüilo
Até que de longe se escuta um zunido
E todos passam a esperar
A chegada da Polícia Militar
Logo surge a viatura
Desce um policial fardado
Que sem nenhuma frescura
Traz preso um sujeito folgado
Procura pela Autoridade
Narra a ele a sua verdade
Que o prendeu sem piedade
Pois sem nenhuma autorização
Pelas ruas ermas todo tranquilão
Estava em uma motocicleta com restrição
(eu adoro a rima autorização-tranquilão)
A Autoridade desconfiada
Já iniciou o seu sermão
Mostrou ao preso a papelada
Que a sua ficha era do cão
Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa
Disse que não tinha culpa
Pois só estava na garupa
(desculpa-culpa
Foi checada a situação
Ele é mesmo sem noção
Estava preso na domiciliar
Não conseguiu mais se explicar
A motocicleta era roubada
A sua boa fé era furada
Se na garupa ou no volante
Sei que fiz esse flagrante
Desse cara petulante
Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante
Pelo crime de receptação
Pois só com a polícia atuante
Protegeremos a população
A fiança foi fixada
E claro não foi paga
E enquanto não vier a cutucada
Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada
Já hoje aqui esteve pra testemunhá
A vítima, meu quase chará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho
As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar
Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia
Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão
O Caracteres com Espaço,
blog que eu mesma faço,
em seu humilde afã,
é um assumido fã
do delegaldo
Reinaldo
2.777 caracteres com espaço
Belkis é nome de rainha
da rainha de Sabá
Nem sei bem se isso é reino,
mas é ela que manda lá
Li Pornopopéia
e depois
Tanto Faz
e agora quero escrever
igual o Reinaldo Moraes
O poodle do xerox é preto
está sempre na escadinha
já viveu muito tempo
e parece uma pessoinha
O Rafa roeu as cascas
limpou cada ferida
sobraram umas marcas
mas nem precisou band-aid
O Rafa rói tudinho
descasca a pele
e mói os ossos
e tudo fica molinho
Daqui a dois meses,
falta pouco
Belle e Chico se mudam daqui
Eu fingo que não ouço
o pipoco
do meu coração
espatifando igual caqui
Veri vem do verbo varrer
No lugar da vassoura,
ela empunha o escracho
e vai varrendo
varrendo e varrendo
tudo aquilo que é chato
No fim, nem usa pázinha
só dá um soprão
E o pó da chateação
sai voando pelos ares
Descongelei as fatias
espremi as alcaparras
misturei com azeite
e uma colher de mostarda
Com o pão, peguei o carpaccio
com grana padano ralado
comi fazendo versinhos
e o iPad ficou todo lambuzado
Quero conhecer o Chico
filho do Edu e da Beth
Quero ver o Otto
filho da Thany e do marido dela
que eu não conheço
Quero dar um beijo no Vicente
filho da Marina e do Cohen
meio-irmão da Alice
A Ana Flor eu conheci
como é linda a filha
dos amados Meg e Ray
Mas de todos esses e outros
o que eu quero mais mesmo
é brincar com meu sobrinho
que não tem sexo, nem nome nem nada
E ainda vai morar um bom tempo
na barriga da minha cunhada
Só eu, só você
vem cá no cantinho
ficar agarradinho
Só nós, chega aí
é saudade demais
Não posso com isso
Aí, pega esse braço
e faz um laço
E vem aqui pertinho
Só eu, só você
de quem é esse braço
não dá pra saber
—
Você pode cantar junto. Dá play e solta a voz:
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