A sexta-feira treze começou mal e terminou assim:
Eu tenho uma gata. Preta. A Shoyu.
Chego em casa, sete e meia da noite. Abro a porta, as luzes apagadas, e vejo, ainda na penumbra, o chão todo coberto por ALGO. Acendo a luz. São penas. Fecho a porta. Atrás dela está o corpo. O corpo de uma pomba toda eviscerada. Tripas de pomba infecta no canto. Penas de pomba infecta pela sala inteira. Presente da Shoyu…
Para fechar a cena: estou de TPM. Resultado: crise de choro.
Euzinha, sozinha, procuro alguém da vila pra me consolar. Encontro apenas a vizinha que é muito brigada comigo… Desisto.
Recomposta, pego uma sacola e uma pá e suspendendo a respiração (e tentando suspender os batimentos cardíacos e a própria consciência) consigo colocar o corpo e suas tripas no saco. Bora terminar o serviço.
Começo a varrer as penas e elas vêm pra cá mas logo voam pra lá. São penas, afinal. E não tem jeito de varrer. As penas cinza, o chão cinza, a gata preta… Continuo varrendo, elas continuam voando e de repente cai a ficha.
Aquela cena, aquelas penas… É tudo tão leve… igual saco de supermercado voando sozinho na rua quando venta. Poesia pura para quem estiver a fim de ver.
“Quanta leveza nas penas do passarinho morto-eviscerado no canto da sala no fim de um dia ruim”.
No caminho pra lavanderia (onde eu estava indo pegar o rodo, um pano e um balde de água com desinfetante pra molhar aquelas penas e acabar com aquela palhaçada), plim: até o tétrico tem um lado leve.
Feliz sexta-feira-treze, agora que ela já terminou.
1.654 caracteres com espaço
Roubei a imagem daqui