
Esse post explica como chegar a esta praia específica
Eu trabalhei anos como repórter do caderno de Turismo. E, sim, até isso cansa. Acontece que eu fui viajar esses dias e foi difícil encontrar informações do lugar a que eu ia. Como “eu saí do Turismo, mas o Turismo não saiu de mim”, eu vou fazer uma clássica matéria de viagem, com serviço e tudo, veja só.
A Vila de Santo Antonio tem três ruas que dão numa espécie de praça. As três ruas são de areia. Como quase tudo ali. O povoado tem umas 200 pessoas, três restaurantes e dois carros. Eles são bem importantes esses dois carros. Além da praia, claro. Mas vamos começar pelo começo, que é a parte mais difícil dessa história. O começo é:

Essa aí é a barraca do Sérgio
Como chegar a Santo Antônio. Não é difícil, desde que você saiba algumas coordenadas. E a internet, que tem de tudo, está em falta de coordenadas para ir a Santo Antônio. Vamos resolver isso aí. A Vila de Santo Antonio fica a norte de Salvador, no município de Mata de São João. Ela fica depois de Imbassaí e Praia do Forte. E antes de Sauípe. É a menos de 100 km de Salvador, pela costa, no rumo norte. (Sauípe, Praia do Forte, Imbassaí, Diogo e Santo Antônio são todos vilarejos do município de Mata de São João, cujo centro fica no interior, a cerca de 70 km da costa. Para entender mais ou menos isso aí, veja este mapa; Salvador está pra baixo de Lauro de Freitas)
Para ir pra lá gastando pouco dinheiro, pegue um táxi no aeroporto até o ponto de ônibus de São Cristóvão. É só dizer pro taxista: eu vou pegar um ônibus da Linha Verde, me deixa no ponto? Dá uns R$ 20. Daí esse ponto é sensacional. É uma galera, muitos ônibus e bastante confusão.
Foco no que importa: você precisa pegar ou um ônibus da Expresso Linha Verde ou uma van da Linha Branca (foi o que peguei). O cara passa gritando: Arempebe, Praia do Forte, Sauípe. Falou Sauípe, pode entrar. Se ele não falou, você pode perguntar: passa na entrada do Diogo?
Eu tenho essa teoria, não sei da onde tirei ela, mas ela costuma funcionar. No caso de você não ter a menor ideia do que está falando, fale com muita convicção, como se estivesse mencionando algo tão banal quanto ‘o ar é transparente’. Foi assim que dissemos. “Passa na entrada do Diogo?”. “Passa”. Então bora. A passagem custa R$ 10 (de Salvador a Diogo. Você vai reparar que cada um paga um valor de passagem, e isso é definido pelo ponto de partida e de chegada).

Essa é a vista que se tem a partir do ponto de mototáxi
A viagem até a entrada do Diogo (que é o vilarejo vizinho a Santo Antonio, maior, à beira do rio Imbassaí) demora mais ou menos 1 hora. Chegando lá, atravesse a estrada rumo ao ponto de mototáxi e peça ao mototaxista que leve você até Santo Antônio. A viagem custa R$ 15. E é uma viagem….
Ele atravessa a pista e entra numa estradinha de terra. Até aí, normal. Eis que a estradinha de terra vira um caminho de areia fofa, muito fofa, e branca. Parece rally. É o areal. O povo da vila espalha casca de coco na estradinha pra ela ficar mais transitável. Mesmo assim, o meu mototaxista derrapou duas vezes. Depois eu perguntei quem é que espalha o coco na estrada e veja só que legal: o pessoal vai se organizando e os dois carros da vila vão levando o coco e deixando umas pilhas ao longo da estradinha. Num dia combinado, a galera vai geral pra lá espalhar o coco na estrada. “E quem não puder vir, paga a cerveja e a feijoada. Todo mundo participa de algum jeito”, me explicou Sérgio, filho de Dona Lelé, dono da barraca do Sérgio e de um dos dois carros da vila.
Para ir pra lá gastando muito dinheiro, você pode ir de táxi até a entrada do Diogo (vai dar no mínimo R$ 150) e pegar o mototáxi ou tentar falar com o Sérgio e ver se ele busca você no aeroporto.

Esse é o areal, ou melhor, um pedaço dele
O mototáxi finalmente chega a Santo Antonio. Você vai descer na frente “de Luciano”. Luciano é filho de Dona Lelé, irmão, portanto, de Sérgio. Mas é também um camping e o ponto de encontro da vila. Sim, o camping é dele. Tudo o que você marcar com qualquer pessoa vai ser ali “em Luciano”.
Diante de Luciano tem uma espécie de praça, um lugar sem nada. Às vezes tem ali um jegue estacionado. O jegue é a principal forma de transporte em Santo Antônio. Colocam neles uns cestos grandes e redondos e pronto. São a picape local. A fauna local também é farta de galinhas e galos. Muitos, por todos os lados. As galinhas andam pra lá e pra cá com seus pintinhos, ensinando os pequenos a ciscar. O clima é bem interiorano.
Parado ali no meio, olhando para o camping, as coisas estão dispostas assim: na sua frente, a praia (depois do camping, né). 45 graus à direita está a rua onde fica Dona Domingas, a mercearia da vila, onde você pode comprar água mineral de litro, fósforo e Cremogema. Mais 45 graus, ou seja, à direita, está o restaurante O Pescador, onde sempre tem gente. Ele fica numa esquina pontuda. À esquerda, está a rua da Dona Lelé, onde você provavelmente ficará hospedado. Depois tem a rua da igreja. E atrás de você uma rua meio escondida com alguns botecos e restaurantes. Em todo o lado esquerdo, é só areal e praia.

A rede na varanda do chalé na Dona Lelé. Ali na frente tem o portão e a rua
Onde ficar em Santo Antonio. Então, o esquema é ficar na Dona Lelé. Até há, por lá, casas para alugar. E há o camping. O duro é que não tem onde comprar muita coisa, então se ficar numa casa alugada, você vai ter de trazer bastante coisa na mala. A pousada da Dona Lelé é composta por chalés espalhados numa espécie de sítio. Há muitas galinhas, alguns coqueiros e uns quatro ou cinco chalés. Os chalés são bem bonitos. As paredes de fora são amarelas e as de dentro azuis, bem azul mesmo, aquele azul caiado. E os batentes das janelas e das portas são vermelhões. Então não importa de onde você estiver olhando para o chalé, sempre parece que você acabou de cair dentro de um quadro naïf (ainda mais se o galo branco estiver passando por ali na hora).

Olha bem, a parede de dentro é azul; o batente, vermelhão; a de fora, amarela
Logo que você acorda, a Luciane, que é filha da Dona Lelé, e portanto irmã de Sérgio e de Luciano, começa a preparar o café da manhã, servido numa espécie de quiosque-coreto no meio do terreno, com vista para o lugar em que as galinhas ficam. O café da manhã é mágico. Vem assim:
– uma jarra de suco feito na hora. No primeiro dia foi mangaba; no segundo, manga; no terceiro, goiaba; no quarto, mangaba. É quase um hai-kai.
Mangaba
Manga goiaba
Mangaba
– uma garrafa de café e uma de leite.
– um pão francês e dois pães de hambúrguer, sendo esse o melhor pão de hamburguer que eu já comi.
– ovo mexido, queijo e presunto
– duas variedades de fruta (mamão e melão em metade dos dias, mamão e melancia na outra)
– banana frita (com açúcar cristal e canela)
– banana cozida. Que delícia esse negócio. Eu nunca tinha comido isso.
Se você não estiver hospedado na Lelé, mas quiser tomar esse café da manhã maravilhoso, pode tentar pedir para ela. O café, avulso, custa R$ 16 para o casal.
O chalé é arrumadinho. Eu fiquei em um com cozinha. Tinha o quarto do casal, com a cama, TV, ventilador e mosquiteiro (muito útil). Um banheiro e a cozinha, com geladeira, fogão, três panelas e plim. A diária para esse chalé custa R$ 120 e inclui café da manhã, que inclui o sorrisão da Luciane, que é um docinho de pessoa.

Panela, panela, panela, plim, panela, plim
Comida. São três os restaurantes principais de Santo Antonio. O Do Pescador é ok. As moquecas em qualquer um deles variam de R$ 35/R$ 40 (peixe, mista; a de siri-catado é mais barata, se não me engano custa R$ 28) a R$ 80, no caso da de lagosta. O Maria Moqueca é simpático mas a comida não é boa, não. É pesada. Mas ali está a melhor ducha do vilarejo. Ela fica bem na entrada. Esqueça a vergonha e passe ali para uma boa chuveirada pós-praia. O Nativo, o terceiro restaurante, tem aparência tão antipática que a gente nem foi (se você for e a comida for boa, por favor me conte). Mas onde comemos melhor em Santo Antônio foi na Barraca do Sérgio, que fica na praia. Isso, o Sérgio, dono de um dos carros e filho da Dona Lelé. O duro é que não dá vontade de mandar uma moqueca sentado na praia, com o pé na areia… então ficamos nos petiscos (melhor aipim frito que eu já comi na vida) e caipirinha (bem boa, embora pequena).
Artesanato. As mulheres de Santo Antônio fazem lindas bolsas de palha. A maiorzona, mais bonita, que parece um cesto-bolsa, custa R$ 30. Elas tingem a palha com anilina e fazem uns trançados quetais. Para modelos mais, hum, criativos, vá n’O Pescador. Para modelos mais roots, veja a oferta da Dona Domingas.
Dinheiro. Isso faz que cheguemos num ponto: é evidente que não há caixa eletrônico por aqui. Então é bom separar bastante dinheiro. A cerveja custa R$ 4,50. As porções, a partir de R$ 15 (agulha, pititinga e outras delícias). A capirinha, R$ 8. A comida eu já disse lá em cima. A hospedagem também. Daí calcule mais ou menos quanto você costuma consumir e traga tudo.
Daí no mais não tem segredo não. É só praia e areal. Na praia, cuidado com as pedras. Na maré baixa dá pra ver todas elas, inclusive ficar ali bisbilhotando as poças de água cheias de siri e alevinos. Mas na maré alta pode ser que elas sumam e aí corre o risco de dar aquela topada com a pedra submersa. No areal, vá um dia à noite, estenda a canga e aproveite um pouco a vida em marcha lenta.

Vai à noitinha pro areal, estica a canga e fica lá vendo estrela
Na hora de ir embora. Você pode repetir o procedimento da vinda. Pegar o mototáxi até a pista, esperar passar a van da Linha Branca ou o ônibus da Linha Verde (ATENÇÃO: eles operam entre 5h e 19h) e pegar um táxi até o aeroporto. Ou, se estiver com preguiça ou quiser ir mais tarde, já sabe, procure Sérgio. Ele cobra R$ 150 (em abril/2011) para levar ao aeroporto de Salvador. Faça as contas. Se você estiver em dois, vai gastar R$ 30 de mototáxi, R$ 20 de van e R$ 20 de táxi. Dá R$ 70. Calcule seu orçamento e mande bala.
E pra falar com essa galera toda.
Dona Lelé: 0/xx/71/9951-6705
Luciano: 0/xx/71/9174-2093
O do Sérgio eu não sei. Mas ele é filho da Lelé e irmão do Luciano, então tá fácil, vai.

É isso aí
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